A Educação deve ser profunda e abrangente

O mundo vive de modas. Sempre há palavras-chave em algum período que são repetidas constantemente. Uma das palavras-chave de nosso tempo é a inteligência artificial (IA). Klaus Schwab, criador do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, mostra como a IA, combinada com outras disciplinas, faz parte de uma grande ruptura nos processos produtivos, a qual ele denomina de Quarta Revolução Industrial.

Desde a Primeira Revolução Industrial temos observado o ser humano ser substituído por máquinas em diversas atividades e isso tem eliminado muitas profissões, transformando decisivamente o futuro do trabalho e a formação de novos profissionais. Não precisamos ir muito longe para perceber que a automação elimina empregos.

Se o elevador pode ser operado pelo próprio usuário, você não precisa de um ascensorista (para os mais novos, ascensorista é a profissão que consiste em operar um elevador de um prédio comercial ou residencial). Em 1995, o sociólogo Jeremy Rifkin publicou o best-seller “The End of Work” e que no Brasil foi traduzido para o Fim dos Empregos. Rifkin deixa claro que o trabalho realmente não deverá acabar, pois enquanto algumas atividades são extintas, sempre outras surgem no lugar demandando um perfil diferente de profissional para desempenhá-las. Prova disso é que na metade do século XX havia poucos programadores no mundo, porque havia poucos computadores e eles nem eram conectados em rede (globalmente).

Hoje há dezenas de datacenters espalhados pelo planeta com centenas de sistemas provendo serviços pela web, seja via desktop, celular ou por outros dispositivos. E por isso, um mundo dominado por softwares complexos exige uma quantidade cada vez maior de técnicos que lidam desde a infraestrutura até o desenvolvimento. O futuro do trabalho passa por uma educação profunda e abrangente. É necessário ter pensamento crítico, estudar continuamente e ser despojado(a) o suficiente para suportar as mudanças constantes.

É um mundo que depende de muita tecnologia baseada em conhecimentos de ciências exatas, mas não exclusivos delas. Por exemplo, para que a inteligência artificial do assistente de um celular funcione foi necessário o trabalho de um linguista, que é um profissional de ciências humanas. Embora haja inteligência artificial por trás de vários sistemas de apoio à decisão hoje, são necessários supervisores humanos para corrigir e aperfeiçoar os algoritmos de aprendizado de máquina. No futuro a inteligência artificial pode eliminar postos de trabalho?

Sim, conforme comprovado pelo  exemplo da profissão de ascensorista. Mas é preciso também destacar que o futuro do trabalho exige profissionais que sejam melhores do que as máquinas, que façam coisas que elas ainda não conseguem fazer. Por isso deve-se investir em uma formação profunda e abrangente ao mesmo tempo, com perfil de pesquisa e estudo contínuos.

Ela tem de ser profunda para criar um especialista em algo, mas ao mesmo tempo criar um profissional que saiba trabalhar em equipes multidisciplinares, com a consciência de que irá fazer parte de algo muito complexo, com o qual não conseguiria lidar sozinho. No futuro: esse tipo de profissional jamais sairá de moda.

Ernesto Haberkorn: Em 2021 comemorou 78 anos de idade e pratica atividades físicas regularmente. Mais de 50 anos de experiência no mercado de tecnologia, é empresário, fundador SIGA, Co-fundador TOTVS, fundador do ERPFlex, Grupo NETAS, autor de 14 livros sobre Gestão Empresarial com ERP.

Crédito imagem das crianças: Internet